Os benefícios da equoterapia para as crianças
A terapia assistida com cavalos pode ser uma alternativa no tratamento de problemas físicos, neurológicos e emocionais. Entenda!
As crianças, de modo geral, amam animais, e a convivência é sempre benéfica, seja para o corpo, seja para a mente. Para os pequenos com necessidades especiais, esse contato pode representar uma forma alternativa de trabalhar características que precisam de estimulação e, nesse cenário, a terapia assistida com cavalos é uma grande aliada.
“A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo como um agente promotor de ganhos a nível físico e psíquico, em um trabalho multidisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, sempre buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais”, explica a psicóloga habilitada em equoterapia Maria Julia Maccari Guarezi, de Santa Catarina.
Reconhecida como método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo CREFITO (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), a terapia assistida com cavalos costuma ser indicada para crianças com algum tipo de deficiência física, como paralisia cerebral; questões neurológicas como TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade); pequenos com síndrome de Down; além de ansiedade, depressão, traumas, dificuldade sensorial e de socialização, entre outros.
“É considerada uma terapia que trabalha o corpo e mente como um todo, associando desenvolvimento físico, como o tônus muscular, a conscientização do corpo, o equilíbrio e culminando na melhora da autoestima”, explica Roberta Ariboni Brandi, responsável pelo Projeto Equoterapia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ USP).
A equoterapia também aumenta a concentração, benefício fundamental para quem tem TDAH; e acalma, o que ajuda todas as crianças, mas em especial aquelas que sofrem com ansiedade, traumas e estresse.
O estudo “Benefícios da equoterapia no cognitivo de crianças com Transtorno do Espectro Autista: revisão sistemática e meta-análise”, realizado por pesquisadores da Universidade de Campina Grande (UFCG) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), analisou 29 artigos, totalizando 591 participantes. Foi possível identificar benefícios das atividades e terapias assistidas por cavalos nas áreas cognitivas de crianças com autismo, principalmente no que diz respeito ao cognitivo social e emocional, bem como na redução da irritabilidade, hiperatividade e agressividade.
Além da montaria
Diferentemente do que se pensa, a terapia com cavalos não se restringe à montaria. Existem diversos modos de interação, que são escolhidos de acordo com as necessidades do paciente. “A atividade de aproximação ao cavalo, interação e manejo do animal, que é forte e imponente, leva o praticante à superação, eleva a autoestima e melhora a socialização”, diz Roberta.
De acordo com a especialista, a simples observação das ações do cavalo já repercute na vida social da criança, favorecendo a sua inclusão, o senso de pertencimento e a hierarquia. “Escovar o cavalo, por exemplo, estimula que o praticante tenha as mesmas práticas em suas casas, favorecendo as atividades diárias de pentear seus cabelos, escovar os dentes, se vestir, ações muito importantes para as famílias”, afirma.
Como escolher o local para o tratamento
A equoterapia é indicada para crianças a partir de 2 anos — e a partir de 3 anos, no caso de quem tem Síndrome de Down, sempre com recomendação médica. “Laudos e exames médicos complementares são fundamentais, assim como a avaliação de psicólogos e fisioterapeutas”, aconselha Roberta.
Para garantir um tratamento seguro e eficiente, os pais devem procurar espaços filiados ou agregados à ANDE-BRASIL, que é a Associação Nacional de Equoterapia. As equipes devem ser multidisciplinares e contar com pelo menos um fisioterapeuta, um psicólogo e um treinador/equitador para os cavalos. A equipe deve ser habilitada em equoterapia e o ambiente adaptado para a atividade.
“O espaço deve contar com uma rampa que fique da altura do cavalo para montaria dos praticantes em segurança. Além disso, o cavalo precisa ser manso, treinado a aceitar muitas coisas, como brinquedos e acessórios”, afirma Maria Júlia.
A terapia assistida com cavalos encontra-se entre os serviços especializados oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e várias entidades e associações têm parcerias com os governos locais para garantir atendimento gratuito a crianças com deficiência em situação de vulnerabilidade social.
Na rede particular, o preço das sessões varia muito, dependendo da região do país, mas, em média, o valor vai de 100 a 600 reais. Algumas clínicas cobram uma tarifa mensal, outras cobram por atendimento.
Infelizmente, a equoterapia ainda não faz parte do rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que dá brecha para que alguns planos de saúde neguem o tratamento. No entanto, em novembro de 2023, passou a vigorar a Lei n. 13.830/2019, que regulamenta a equoterapia como método de reabilitação de pessoas com deficiência, o que obriga as operadoras de planos de saúde a cobrir o tratamento terapêutico, desde que seja recomendado por um médico e esteja dentro das indicações médicas.
Por Daniele Zebini – Revista Crescer
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