Distúrbios gastrointestinais podem ser associados à maior gravidade da COVID-19 - FEALQ PELA VIDA

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Distúrbios gastrointestinais podem ser associados à maior gravidade da COVID-19

O esôfago é um tubo muscular que transporta os alimentos da boca para o estômago. No início e final desse tubo existem esfíncteres que controlam o fluxo dos alimentos, de modo que os ácidos estomacais não retornem ao esôfago. Porém, em pessoas com as doenças do refluxo gastroesofágico (gastroesophageal reflux disease, GERD) e esôfago de Barrett (Barrett’s esophagus, BE), o conteúdo do estômago pode retornar ao esôfago, provocando fortes azias (indigestão ácida) e lesões nas paredes do esôfago (Bujanda, 2018). Um artigo publicado este mês na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, demonstrou que esses distúrbios digestivos podem estar associados à maior gravidade da COVID-19.

A maior gravidade da COVID-19 em pacientes com BE e GERD é devido ao aumento dos níveis de ACE2 (proteína que facilita a entrada do coronavírus nas células) no esôfago em consequência da acidificação causada pelo retorno do conteúdo estomacal. O estudo foi composto por várias etapas, iniciando com uma coleta de dados de expressão gênica no repositório público Gene Expression Omnibus (GEO), onde os pesquisadores comprovaram que o gene ACE2 é mais expresso em pessoas com a síndrome do esôfago de Barrett. Somando-se a isso, os autores incubaram células de defesa do sangue (monócitos) juntamente com o SARS-CoV-2 em diferentes graus de acidez, provando que pHs mais ácidos (até 6) apresentam maior expressão de ACE2 e maior carga viral.

Os pesquisadores ainda estudaram dois grupos de pacientes internados devido às complicações da COVID-19, 551 pessoas em Manaus (AM) e 806 em São José do Rio Preto (SP). Para formar esses grupos foram consideradas pessoas que faziam uso constante de remédios do tipo inibidores da bomba de prótons (IBPs – omeprazol, pantoprazol, etc.), por serem considerados como portadores de distúrbios gastrointestinais anteriormente à COVID-19. Os resultados dessa última etapa demonstraram que pacientes que fazem uso de IBPs, ou seja, possuem problemas digestivos associados à acidez estomacal, tem 2 vezes mais chances de complicações severas e morte por COVID-19, independente de outros fatores pré-existentes (idade avançada e outras doenças). Por fim, os pesquisadores concluíram que alterações no pH das células têm grande influência no grau de infecção pelo SARS-CoV-2 e na severidade do desenvolvimento da COVID-19, porém mais estudos em larga escala são necessários para se estabelecer uma relação direta entre COVID-19 e distúrbios gastrointestinais como BE e GERD.

 

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