Como o conteúdo de esgotos pode auxiliar no combate à COVID-19?
Métodos que possam detectar a presença do novo coronavírus com antecedência na população, antes mesmo que as pessoas comecem a apresentar sintomas, são muito importantes no combate e na contenção da transmissão da COVID-19. E um local inusitado parece ser uma boa oportunidade para isso: o esgoto. Pesquisadores constataram que a partir da identificação do SARS-CoV-2 nos esgotos de determinada região, foi possível mensurar os níveis e a taxa de aumento do vírus nesta região. Outra importante informação obtida foi a identificação de mutações ou surgimento de novas cepas naquele local específico.
Estudos demonstraram que pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 podem ter o vírus detectado em suas fezes após dois ou três dias da infecção, antes mesmo do aparecimento dos primeiros sintomas, quando presentes. Após serem despejados no sistema de esgoto, os vírus se desintegram devido a presença de detergentes e surfactantes. Entretanto, o RNA viral, seu material genético, ainda pode ser detectado a partir de amostras filtradas do esgoto por meio da técnica de RT-PCR. O grupo liderado pelo Dr. Warish Ahmed e com a colaboração de pesquisadores da Universidade de Queensland e CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), na Austrália, é pioneiro nesse método de detecção do SARS-CoV-2 nos esgotos início de 2020, durante a primeira onda da COVID-19 na Austrália, o grupo testou duas estações de esgoto em Brisbane, concluindo que a detecção em águas de esgoto pode realmente refletir os resultados clínicos de COVID-19 em uma comunidade, confirmando a eficiência da metodologia.
Em relação à acurácia da detecção do coronavírus em águas de esgoto, em estudos realizados nos Estados Unidos, foi demonstrado que o método pode identificar uma única pessoa infectada em um grupo de 100 indivíduos e, na melhor das hipóteses, detectar um infectado em um grupo de até 2 milhões de pessoas. Um exemplo de aplicação foi na Universidade do Arizona, onde foi detectada a presença do SARS-CoV-2 nas águas residuais oriundas dos dormitórios dos alunos, o que levou a testes individuais de todos os 311 residentes do local, e a identificação de dois alunos assintomáticos foram testados positivos.
Por fim, sobre o tempo necessário para se conseguir os resultados, os pesquisadores descrevem que o vírus pode estar presente nas fezes dentro de dois a três dias após a infecção e que as amostras de água levam de um a dois dias para serem analisadas. Em contrapartida, leva-se de cinco dias a duas semanas para que uma pessoa desenvolva sintomas suficientes para ser testada e diagnosticada com a doença, demonstrando que essa metodologia traz vantagens quanto a detecção precoce do vírus em um determinado local. Sendo assim, a metodologia é muito vantajosa e pode ajudar na detecção e na contenção da disseminação do vírus, podendo ser utilizada para rastrear o Sars-CoV-2 em pequenas populações, como creches, escolas e prisões.
Para ler sobre mais informações acesse:
https://ecos.csiro.au/how-sewage-testing-helps-contain-covid-19/
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969720322816?via%3Dihub
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S004896972033480X?via%3Dihub