Rastreando as origens e rotas do Sars-Cov-2 por meio de suas mutações
Após o surgimento da pandemia do Coronavírus, a comunidade científica determinou rapidamente as características patofisiológicas da doença, as ferramentas mais precisas para o seu diagnóstico e identificou os fatores de risco que contribuíam para os piores prognósticos aos pacientes. Entretanto, ainda se sabe pouco sobre a evolução do genoma do Sars-Cov-2 e sua influência nas dinâmicas de transmissão do vírus dentro de diferentes populações. Além disso, a descoberta de mutações adquiridas pelo vírus durante esse período permite análises filogenéticas que colaboram com o entendimento das origens e das rotas de transmissão da doença.
A Áustria é um dos centros europeus durante o turismo de inverno internacional e, por isso, o país surgiu como um potencial centro de transmissões do Coronavírus no início da pandemia. A disseminação da Covid-19 associada ao turismo de inverno austríaco pode ter sido responsável por até metade dos casos importados na Dinamarca e na Noruega, além de outra parte considerável de casos em países como Alemanha e Islândia. Sendo assim, devido a um desenvolvido sistema de saúde, juntamente com um programa de vigilância epidemiológica eficiente, pesquisadores conseguiram rastrear todos os 21.821 diagnósticos positivos de Covid-19 no país, datados até 07 de agosto. Destes, 10.385 casos estavam ligados a “clusters” epidemiológicos, ou seja, estavam ligados a agrupamentos principais de casos de Sars-Cov-2 durante a primeira onda de infecções.
As análises epidemiológicas, juntamente com as análises filogenéticas oriundas dos dados de sequenciamento de mais de 500 amostras de vírus, permitiram que os pesquisadores reconstruíssem os eventos de propagação em massa e traçassem um mapa da propagação viral relacionada ao turismo na Áustria durante o final do inverno e início da primavera. Interessantemente, as análises demonstraram que as províncias de Tyrol e Viena, foram as primeiras a iniciarem os eventos de propagação na Áustria, e que os casos se iniciaram em aglomerações fechadas em um Bar Apré Ski e em uma aula de esportes, nas províncias de Tyrol e Viena, respectivamente. Além disso, para investigar a ligação entre os casos pontuais na Áustria com a pandemia global, os pesquisadores compararam genomas do vírus encontrado nas amostras dos casos austríacos com amostras de casos globais da base de dados GISAID (iniciativa científica global que fornece dados da Covid-19). Os pesquisadores observaram que o perfil de mutações, juntamente com as informações sobre as proximidades geográficas durante as ocorrências de infecção, são fortes indicadores de possíveis cadeias de transmissão. Como exemplo, o perfil mutacional de amostras coletadas na província de Tyrol eram bem similares com o perfil mutacional de amostras coletadas em um surto na região francesa de Altos da França no final de fevereiro. Também, a introdução do Sars-Cov-2 com esse mesmo perfil foi reportado na Islândia no início de março. Por fim, os pesquisadores conseguiram determinar o número de partículas virais do Sars-Cov-2 necessárias para começar uma infecção e produzir progênies na população viral. Nesse caso, 103 seriam o suficiente.
O estudo publicado na revista Science, destacou o poder da combinação de análises epidemiológicas e filogenéticas, através de sequenciamento, para o melhor entendimento da origem e da propagação do vírus Sars-Cov-2, principalmente no continente europeu.
Para mais informações, acesse o artigo na íntegra: https://stm.sciencemag.org/content/12/573/eabe2555