Desmatamento e surgimento de novas pandemias: qual a relação?
Estudos recentes têm aumentado as evidências sobre o que vários ecologistas já enfatizavam nas últimas décadas: o desmatamento vem destruindo o habitat natural de várias espécies silvestres, aumentando a aproximação desses com os humanos. Além disso, a degradação dos habitats naturais e a diminuição da biodiversidade vêm aumentando o número de animais hospedeiros de patógenos e que se adaptam e sobrevivem com maior facilidade na natureza, como os roedores e morcegos.
Um estudo realizado por pesquisadores da Stanford University, em abril deste ano, constatou que o desmatamento e a fragmentação do habitat de primatas em Uganda, África, aumentaram a interação entre esses animais e os humanos daquela região. Enquanto os primatas saiam das florestas para invadir plantações em busca de comida, os humanos adentravam as florestas em busca de madeira, aumentando assim a interação entre as espécies.
Outra pergunta que tem persistido nos últimos anos é o relacionamento direto entre a expansão humana e a diminuição da biodiversidade com o surto de pandemias, ou seja, aumento do número de patógenos que podem ser transmissíveis de animais para os humanos. Alguns estudos realizados vêm demonstrando que, em vários casos, a resposta é sim. Um deles, liderado pela pesquisadora Kate Jones da University College London, analisou cerca de 6.800 comunidades ecológicas ao redor do mundo. Os pesquisadores demonstraram que, à medida que o ambiente natural vai se transformando para o ambiente urbano, várias espécies vão sendo extintas e, consequentemente, a biodiversidade diminui. Isso facilita a adaptação e sobrevivência de alguns animais como várias espécies hospedeiras de patógenos transmissíveis para os humanos, incluindo 143 mamíferos como morcegos, roedores e vários primatas. Agora, a próxima etapa do projeto da Dra. Jones é observar a probabilidade de transmissão de doenças para os humanos relacionada com a expansão urbana. O grupo já fez esse tipo de avaliação para surtos do vírus Ebola na África, criando mapas de risco baseados em tendências de desenvolvimento, a presença de prováveis espécies hospedeiras e fatores socioeconômicos que determinam o ritmo em que um vírus pode se espalhar ao entrar na população humana.
Finalmente, outros pesquisadores pedem cautela ao divulgar que os locais de biodiversidade são onde os surtos podem ocorrer. De acordo com Dan Nepstad, fundador do Earth Innovation Institute, a divulgação errônea dessas informações pode fazer com que as pessoas desmatem ainda mais esses locais, achando que desta forma podem evitar uma próxima pandemia. Ainda, o pesquisador acredita que os esforços para preservar a biodiversidade só irão funcionar se forem atrelados a fatores econômicos e culturais, os quais normalmente são os responsáveis pelo desmatamento e dependência de pequenos ruralistas quanto à caça e o comércio de animais selvagens.
Para mais informações, acessem:
https://www.nature.com/articles/d41586-020-02341-1#ref-CR1
https://www.nature.com/articles/s41586-020-2562-8
https://link.springer.com/article/10.1007/s10980-020-00995-w
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ele.12904