COVID-19 e a deficiência de vitamina D - FEALQ PELA VIDA

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COVID-19 e a deficiência de vitamina D

Nos últimos meses, a vitamina D ganhou destaque devido ao aumento no número de pessoas fazendo o uso de doses excessivas em busca de uma suposta imunidade ou prevenção contra a COVID-19.

A vitamina D3 (ou colecalciferol) é um hormônio esteroide produzido na pele quando tomamos sol por meio dos raios ultravioleta beta (UVB). Essa vitamina é inativa e requer conversão enzimática no fígado e nos rins para chegar à forma ativa 1,25-dihidroxivitamina D (calcitriol) (Marik et al., 2020). Além da sua função no sistema músculo-esquelético, a vitamina D também apresenta ações sobre o sistema imunológico onde seu receptor é expresso em vários tecidos: cérebro, coração, pele, intestino, próstata, gônadas, mamas e células imunológicas, bem como ossos, rins e paratireoides (Jones & Twomey, 2008).

A deficiência de vitamina D tornou-se uma preocupação mundial. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas apresentam tal deficiência. A principal fonte de vitamina D é o sol, já que a alimentação nos proporciona uma baixa quantidade. Os idosos precisam de uma atenção redobrada, pois com o passar dos anos diminuem a capacidade de produzir a vitamina D3 (Marik et al., 2020).

Estudos tem relacionado a deficiência de vitamina D a algumas doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico (LES), diabetes melittus insulino-dependente (DMID), esclerose múltipla (EM), doença inflamatória intestinal (DII) e artrite reumatoide (AR) (Yang et al., 2013), e essa deficiência está relacionado à infecções virais do trato respiratório e lesão pulmonar aguda, característica da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) (Laird et al., 2020).

A deficiência de vitamina D também tem sido associada a variações geográficas. Baseado em dados públicos (50 Estados dos EUA – 30° de latitude Sul a 50° de latitude Norte) do Painel Covid-19 do Centro de Ciências e Engenharia de Sistemas da Universidade de Johns Hopkins, Marik et al (2020) calcularam a taxa de mortalidade de casos (número de mortes/número relatado de casos confirmados) para cada um dos 50 Estados. Os autores demonstraram uma mortalidade crescente com o aumento da latitude e sugerem que a vitamina D pode ser utilizada como um suplemento na tentativa de reduzir a taxa de mortalidade por SARS-CoV-2.

Em um estudo realizado em países da Europa afetados pela infecção por SARS-CoV-2 em idosos, baseado em uma pesquisa bibliográfica no PubMed (artigos selecionados a partir de 1999 com medições de vitamina D disponíveis, dados de casos e mortalidade pelo SARS-CoV-2 fornecidos pela OMS e presença de uma política de fortificação alimentar de vitamina D), os autores observaram que devido a ingestão inadequada na dieta e ausência de uma fortificação alimentar obrigatória, a Europa e o Reino Unido precisam de uma suplementação de vitamina D para alcançar as recomendações exigidas pelas agências de saúde pública de cada país, e que ainda não são conhecidas doses ideais de vitamina D para combater a infecção pelo COVID-19 (Laird et al., 2020).

Resultados obtidos de dados observacionais mostraram associações entre os níveis de vitamina D e a gravidade e mortalidade por COVID-19, o que pode ser devido ao efeito da vitamina D na resposta imune à infecção. A Grécia apresenta uma deficiência de vitamina D significativa, e o menor número de casos confirmados e mortes por COVID-19. O Brasil é um país na linha do Equador, e com altas taxas de casos e mortalidade pelo vírus. Já a Espanha e a Itália apresentam uma prevalência alta de deficiência de vitamina D e altas taxas de infecção e mortalidade por COVID-19 (Trovas & Tournis, 2020).

“The National Heart, Lung, and Blood Institute” (NHBLI) avaliou altas doses de vitamina D (dose única de 540.000 UI de vitamina D3) por meio de um ensaio randomizado com pacientes que apresentaram deficiência de vitamina D – nível 25(OH)D <50 nmol/L. Os resultados não demonstraram benefícios com maiores doses de vitamina D, mas estudos adicionais podem ser realizados e aplicados para a infecção por SARS-CoV-2 (Marik et al., 2020).

Os estudos observacionais citados acima mostram a importância da vitamina D, mas ainda não há evidências científicas que comprovem a relação da vitamina D com a infecção por COVID-19, sendo necessários ensaios clínicos e análises adequadas.

Dessa forma, concluímos que a transformação social (mudanças comportamental e cultural) e o efeito ambiental faz com que as pessoas passem mais tempo em ambientes fechados ou com pouca radiação solar, e não recebam a vitamina D necessária para a saúde dos ossos e músculos e, consequentemente, para a defesa do organismo. Assim, é importante consultar um médico e fazer exames para comprovar se há uma deficiência de vitamina D, e posterior necessidade de suplementação da mesma. Nunca se automedique, pois o excesso de suplementação pode não ser benéfico à saúde.

Leia mais em:

Jones & Twomey 2008: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18658199/
Laird et al., 2020: https://www.researchgate.net/publication/341234461_
Marik et al., 2020: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32352080/
Trovas & Tournis, 2020: https://link.springer.com/article/10.1007/s42000-020-00231-9
Yang et al., 2013: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23359064/

 

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