Alterações de cheiro e paladar podem ser método de monitoramento para surtos locais de COVID-19
Em diversos países foi demonstrado que os sintomas de alterações de cheiro e paladar são proeminentes da COVID-19, sendo estes sintomas mais específicos do que a febre ou a tosse seca. Um grupo de pesquisadores franceses avaliaram a nível populacional se essas alterações de cheiro e paladar poderiam ser usadas como um indicador precoce de estresse em sistemas de saúde (hospitalizações relacionadas a COVID-19, admissões em Centros de Terapia Intensiva, e taxas de mortalidade), bem como avaliaram se o pico de autorrelatos de alterações quimiosensoriais poderia estar associado com a propagação da infecção por SARS-CoV-2 (leia a íntegra aqui).
Os autores observaram que as mudanças de cheiro/sabor apareceram 4 dias após a decisão do bloqueio (“lockdown”), enquanto que o indicador do governo francês (proporção de consultas por casos suspeitos de COVID-19 em relação a consultas gerais no pronto-socorro em hospitais) para avaliar a circulação ativa do vírus só atingiu o pico 11 dias após o bloqueio e, o pico de admissões em hospitais foi alterado apenas após 14 dias. A robustez dessas mudanças quimiosensoriais também foram observadas em relação a idade e o sexo dos indivíduos.
Uma análise das pesquisas realizadas no site “Google” confirmaram uma relação temporal entre os primeiros sintomas, mudanças de cheiro/sabor e o pico de admissões em hospitais. Primeiro, observou-se um maior número de consultas no Google por termos associados aos sintomas (febre, dor, tosses). Poucos dias depois, a maioria das consultas foi pelos termos “perda de gosto” e “perda de cheiro”. Uma semana depois, consultas por “falta de ar” precederam o pico de admissões em hospitais.
Adicionalmente, análises paralelas com dados da Itália, França e Reino Unido foram realizadas, a fim de monitorar a dinâmica dos casos confirmados de COVID-19 com relação aos autorrelatos dos primeiros sintomas e as alterações de paladar e cheiro. Como esperado, foi observado que os países (Itália e França) que possuíam um rigor de isolamento social maior apresentaram uma queda acentuada de casos e sintomas da COVID-19 após o lockdown. Em contraste, o Reino Unido apresentou uma queda mais lenta de pessoas que relataram os sintomas, o que possivelmente pode ser atribuído a uma política de bloqueio menos severa. Portanto, em cada país o autorrelato de mudanças quimiosensoriais pode ser utilizado como métrica útil para prever a evolução de casos de COVID-19 confirmados. Isto é, quando há uma diminuição de relatos de alterações em cheiro e paladar, o número de casos de COVID-19 confirmados também diminui.
Dessa forma, o estudo destaca que, em áreas onde há um aumento na proporção de indivíduos relatando mudanças em sua capacidade de sentir cheiros ou sabores, isso pode ser utilizado como um indicador precoce da demanda por cuidados de saúde subsequentes. Os estimadores quimiosensoriais podem representar um método de monitoramento econômico, minimamente invasivo e fácil de implementar em estratégias governamentais, alternativo aos testes de virologia em grande escala, os quais são difíceis para executar, caros e demorados, especialmente durante uma pandemia.