A Fazenda Figueira e sua Estação Experimental completam, no próximo dia 11 de fevereiro, 23 anos de validação de pesquisas com foco na pecuária de corte. Localizada em Londrina (PR), a propriedade de 3,68 mil hectares foi doada em testamento para a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) pelo esalqueano Alexandre Von Pritzelwitz, falecido em janeiro de 2000. Suas únicas exigências foram que a fazenda mantivesse a pecuária como atividade principal, abrigasse uma estação experimental batizada com o nome de sua mãe, Hildegard Georgina Von Pritzelwitz, e viesse a ser unidade de produção autossustentável economicamente. A propriedade é administrada pela Fealq sob orientação técnica e científica de professores da Esalq/USP, também conforme desejo do ex-aluno.
O engenheiro agrônomo e administrador da fazenda, José Renato Gonçalves fala sobre essa história de mais de duas décadas e destaca: “a parceria entre a Fazenda Figueira e a Estação Experimental tem sido muito produtiva ao longo dos anos, pois permite associar teoria e prática em uma mesma unidade, com o objetivo de melhorar a eficiência nas diferentes etapas dos sistemas de produção de gado de corte.” Confira abaixo o bate-papo.
Qual balanço podemos fazer desses 23 anos de pesquisas científicas desenvolvidas na Fazenda Figueira e na Estação Experimental?
Um balanço extremamente positivo, com resultados efetivos. Nesse período, já foram conduzidos mais de 90 projetos de pesquisa, incluindo trabalhos de mestrado e doutorado, que contribuíram para identificar os principais gargalos da cadeia e validar as melhores soluções a serem aplicadas visando ganhos de produtividade e rentabilidade. Podemos destacar diversos projetos na área de pastagem, ligados tanto ao controle de plantas invasoras como ao manejo de pasto, além de estudos com suplementação dos animais, protocolos reprodutivos das matrizes, sanidade, entre outros. Mais recentemente, nós também começamos a trabalhar com pesquisas voltadas ao melhoramento genético.
Além de universidades, quais outros públicos a Estação Experimental atende?
A Estação está permanentemente aberta para parcerias com universidades, centros de pesquisa e empresas, tanto do Brasil como do exterior. As propostas são analisadas por uma comissão de professores da Esalq, e os resultados dos trabalhos são levados para as salas de aula, publicados em revistas científicas, divulgados em dias de campo, treinamentos e palestras, reforçando a importância de termos eficiência e melhorias contínuas nos diferentes elos da cadeia para continuarmos na atividade de pecuária de corte.
Como a Fazenda atua para se manter economicamente sustentável?
Atualmente, temos um rebanho que soma cerca de 4.500 cabeças de gado, nas fases de cria, recria e engorda para abate e a comercialização de reprodutores. Quando começamos as atividades, eram 3.200 cabeças. Com a adoção de tecnologias, chegamos próximos de 7.000 animais, mas, devido à crise de febre aftosa, principalmente no Paraná e Mato Grosso do Sul em 2005, optamos por diversificar a produção aumentando a área com grãos, especialmente soja e milho, e reduzindo a de pastagem. Atualmente, parte da propriedade está em um projeto de integração lavoura-pecuária, as áreas com maiores restrições (declividade e pedregosidade) estão sendo utilizadas para plantio de eucalipto, e, desde 2017, participamos do processo de melhoramento genético do rebanho, para a obtenção de reprodutores CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção). Toda essa nossa dinâmica, de diversificação com vários sistemas de produção caminhando simultaneamente e uma estação experimental gerando informações principalmente para a pecuária de corte, permitiu que tivéssemos recursos suficientes para o custeio das atividades e para realizar os investimentos necessários tanto para o setor produtivo como para as pesquisas, cumprindo com o objetivo do doador da fazenda, de que fosse uma unidade autossustentável economicamente.
A Fazenda Figueira também se destaca por sua preocupação com o manejo ambiental. Quais são as ações mantidas nessa área?
Dos 3,68 mil hectares de terra da estação, 42,3% são de reserva natural. Além dos 1.126,10 ha. da Reserva Particular do Patrimônio Natural – a “mata do Barão” –, destinados ainda pelo sr. Alexandre à preservação ambiental, outros 432,4 hectares com baixo potencial produtivo também foram destinados à recuperação da vegetação nativa. A implantação de um projeto hidráulico é uma das iniciativas que reforçam o compromisso ambiental da Fazenda Figueira na condução das atividades voltadas à agropecuária. A propriedade está localizada às margens dos Rios Tibagi e Taquara e possui internamente vários afluentes. Para limitar o uso de águas naturais na produção, foram instalados bebedouros, que, além de contribuírem com a preservação das áreas de mananciais hídricos, possibilitam ganhos de produtividade, associados à maior eficiência de pastejo ao utilizar áreas menores.