Diversidade na Ciência e futuro conectam passado e presente da academia na 10ª edição do Fealq Think & Drink
A última edição do ano do Fealq Think & Drink, realizada no dia 24 de outubro no Espaço Leuven, enalteceu a ciência e a pesquisa, trazendo a diversidade para a conversa em palestra da diretora do Programa de Ciência do Instituto Serrapilheira, Cristina Caldas sobre os “Desafios e oportunidades de promover a ciência no Brasil e outras visões do Instituto Serrapilheira”.
Mais de 80 convidados entre coordenadores de projetos geridos pela Fealq e professores das instituições parceiras da fundação estiveram presentes na noite, que além de conteúdo, conectou diferentes gerações em torno da reflexão sobre conhecimento, ensino, passado, presente e futuro, homenageando o pesquisador e professor Ruy de Araújo Caldas, pelos últimos três anos de volta ao convívio junto a Fealq e a Esalq e que deve retornar a Brasília no próximo ano.
O exemplo de uma família com trajetória narrada pela ciência foi enfatizada no agradecimento do diretor-presidente da Fealq, professor Nelson Massola, ao referenciar o fato da palestrante, Cristina, ser filha dos pesquisadores, Linda e Ruy Caldas, sendo o professor Ruy, um dos grandes incentivadores do Fealq Think & Drink.
“É uma alegria muito grande chegar à 10ª edição do Fealq Think & Drink, principalmente porque entre vocês identifico pessoas que participaram do início dessa ideia e nos incentivaram e apoiaram desde então. São pessoas que continuam aqui nos prestigiando, seja com a sua presença ou trazendo temas que agregam e nos permitem estabelecer esse ambiente de diálogo e de reflexões acerca de assuntos importantes para a ciência, o ensino e a inovação no nosso país”, enalteceu Massola em seu discurso.
Futuro da ciência no Brasil – Bióloga, Cristina Caldas é doutora em Imunologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Jornalismo Científico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atuou como pesquisadora visitante no Centro para Estudos Internacionais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e presidiu a SciBr Foundation, organização sem fins lucrativos sediada em Cambridge (EUA), que promove redes interdisciplinares de conhecimento, agregando brasileiros que atuam no exterior. No Instituto Serrapilheira – fundação privada de apoio à ciência – é responsável pelas iniciativas de apoio à ciência, desde a elaboração de chamadas públicas até a busca ativa por pesquisadores e projetos.
Em sua apresentação, Cristina destacou a visão inovadora do Instituto Serrapilheira na prática da ciência, que aposta em projetos originais, ousados e arriscados. “O Programa de Ciência tem como missão financiar jovens cientistas que buscam excelência em suas pesquisas, fazendo perguntas fundamentais, com o risco e o sonho de oferecer grandes contribuições às suas áreas de atuação, com foco e independência”, explica.
Entre os diferenciais do programa, a diretora aponta a flexibilidade na utilização dos recursos. “É um modelo que reconhece o sucesso em longo prazo, oferece alta flexibilidade de experimentação, busca o risco, confere para os nossos cientistas uma liberdade total para administrar o recurso. Não existe o conceito de rubricas pra gente.”
Desde que assumiu o programa, Cristina já liberou sete chamadas, e reforça a relação de parceria e confiança com todos que receberam o apoio, formando a comunidade Serapilheira. “Queremos que esta comunidade cresça com pilares de valores que são muito importantes, então estamos falando de diversidade na ciência, uma ciência aberta, colaborativa, que possa ser checada e reprodutível.”
A palestrante também abordou as parcerias com as Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs), que possibilita atender um número maior de cientistas, porém com menor flexibilidade no uso dos recursos. Como exemplo bem sucedido, ela aponta a chamada lançada em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ, exclusiva para pós-docs, ecólogos negros e indígenas, com o objetivo de promover a diversidade na ciência.
A iniciativa vincula a grandeza da ciência brasileira ao crescimento do número de professores e pesquisadores negros e indígenas na academia. “Com essa chamada, afirmamos a confiança nos resultados de uma ciência representativa, apoiando a pesquisa em ecologia e a formação de jovens talentos, de quem depende o futuro do país”, assinala Cristina.
Sobre as oportunidades na ciência, a diretora do Serrapilheira pontua os múltiplos talentos e a rica biodiversidade brasileira. “É uma grande oportunidade estar num país com uma biodiversidade como a do Brasil, porém a gente não usufrui nem economicamente, nem do ponto de vista científico. Tem como o nosso país ser um player muito mais importante do que é hoje em dia nesse tema”, acredita.
Como desafios, ela aponta o excesso de burocracia; os processos seletivos baseados em numerologia, ou seja, na quantidade de artigos publicados; e a diversidade na ciência de um modo geral. Para romper estas barreiras, Cristina propõe maior flexibilidade no uso do recurso, uma análise do conhecimento gerado em vez de contagem de ‘papers’ e a construção de uma sociedade mais democrática. “A ciência pode ser uma ferramenta muito importante para a construção de uma sociedade mais democrática, trazendo essas pessoas (negros e indígenas) para dentro da ciência como produtores de conhecimento, e não como simplesmente coletores de amostras”, finaliza.
Homenagem ao professor Ruy Caldas – O encerramento da última edição do ano do Fealq Think & Drink foi marcada pela homenagem ao professor Ruy Caldas, com apresentação de um vídeo com depoimento dos professores da Esalq-USP, Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, Lázaro Eustáquio Pereira Peres, Márcio de Castro Silva Filho, João Lúcio de Azevedo e José Baldin Pinheiro, e entrega da placa de reconhecimento pelo professor Nelson Massola.
Nos últimos três anos, o professor Ruy atuou como pesquisador colaborador nos Departamento de Ciências Biológicas e de Genética da Esalq-USP e assessor da diretoria, tendo ligação com muitas iniciativas apoiadas pela Fealq, e após este período em Piracicaba retorna a Brasília. Pesquisador Emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com vasta experiência na viabilização da relação universidade-empresa para o desenvolvimento da biotecnologia nacional, Ruy Caldas contribuiu com a formulação de políticas públicas e execução de programas estratégicos em ciência, tecnologia e inovação.
“A todas as pessoas com quem trabalhamos juntos, meus sinceros agradecimentos. Ainda está em construção alguns desafios, que até o final do ano, antes de retornar a Brasília, eu gostaria de deixar como contribuição a Esalq, para que continue sendo esta instituição rica, e que as pessoas trabalhem em conjunto. Tenho o sonho de que a Esalq seja daqui a alguns anos a melhor faculdade de agronomia do mundo”, declarou o professor Ruy.
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