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Esalq 122 anos: entrevista com Thais Vieira

Conhecida por ser uma das unidades pioneiras da Universidade de São Paulo, estar entre as instituições de ensino mais prestigiadas do mundo, além de referência no desenvolvimento do agronegócio, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) completou, no dia 3 de junho, 122 anos de existência. Neste novo ciclo, a universidade também celebra um marco histórico em sua trajetória ao contar com a primeira mulher no comando. A professora Thais Maria Ferreira de Souza Vieira, eleita diretora para o quadriênio 2023-2027 ao lado do professor Marcos Milan (vice-diretor), é a entrevistada desta edição do Painel Fealq.

Engenheira agrônoma formada pela Esalq/USP (1995) e doutora em Tecnologia de Alimentos, Thais fala sobre os rumos e perspectivas da Instituição, apontando diretrizes e prioridades dessa gestão, além dos principais desafios em torno do ensino, da pesquisa, inovação e extensão. Fala, ainda, da importância de parcerias como a construída com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), que já soma 46 anos.


A Esalq escreve uma história centenária marcada pela qualidade do ensino e por grandes contribuições ao agro brasileiro. Quais os rumos e perspectivas da Instituição?

A Esalq, como instituição pública, precisa atender à sociedade. Temos que ter propostas para Ensino, Pesquisa, Inovação e Extensão, aderentes ao que a comunidade espera e, ao mesmo tempo, respeitando nossos valores. Ao longo da caminhada, devemos sempre fazer as mudanças necessárias a fim de continuarmos competitivos em termos ações para os alunos, captação de recursos de fomento à pesquisa com apoio público e privado, levando esses resultados à sociedade, o que é mais importante.

Quais marcas você pretende deixar na sua gestão?

O marco da nossa gestão é realmente nos organizarmos para discutirmos aquilo que importa, e que as comissões administrativas possam ser ouvidas. Temos ótimas pessoas trabalhando na Esalq e a ideia é otimizar essa governança, pois isso é essencial para levarmos adiante os projetos a serem propostos pelas comissões, serviços e departamentos, além do alinhamento com a Prefeitura do Campus, o Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) e o Centro de Tecnologia da Informação.

O nosso plano de gestão foi construído de forma colaborativa baseado em cinco grandes eixos: Planejamento Estratégico e Projeto Acadêmico, elaborados de forma participativa; Reflexão sobre os entraves financeiros e jurídicos, com a ideia de fluxos mais abertos e com maior agilidade; Mapeamento e realização de treinamentos e ações de acolhimento com os servidores docentes e não docentes; Revisão dos índices de desempenho acadêmico; Promoção de reuniões de colegiados mais participativas, com discussões conjuntas com maior profundidade.

Quais as perspectivas do agronegócio para os próximos anos? O Brasil possui capacidade para se tornar referência em inovação nesse setor?

O Brasil possui capacidade, mas precisamos de estabilidade na realização de projetos, que precisam ser de médio a longo prazos. É fundamental termos continuidade nas ações. E a Esalq tem um potencial muito grande de contribuição para a agricultura de maneira geral e não somente para o agronegócio. O setor de alimentos, por exemplo, que é minha área de atuação, por ter mais proximidade com o consumidor final, tem se mostrado mais ágil nas modificações para atender esse público. O consumidor quer conhecer a origem dos produtos, quais são os ingredientes, por exemplo. O atual contexto exige esse tipo de reposicionamento das empresas. O agronegócio em si precisa mostrar mais aquilo que realiza e quais as mudanças estão sendo implementadas, principalmente nas questões relacionadas ao meio ambiente, uso de defensivos e boas práticas agrícolas. Acredito na necessidade de mudanças dos sistemas produtivos como um todo.

A Esalq pretende se aproximar mais do ecossistema de inovação local?

Sem dúvida. E já começamos visitando o Parque Tecnológico, tivemos reuniões por lá e empresas já vieram nos procurar. O ecossistema é muito importante para a Esalq e para os nossos pesquisadores. Já temos muitas boas iniciativas sendo realizadas, e ampliar essa aproximação será ainda mais viável à medida que nossa governança garanta que nosso potencial de inovação possa ser aproveitado pela sociedade. Mudando comportamento e trazendo novas tecnologias para que aquilo que produzimos cientificamente seja adotado pelo setor produtivo.

Qual a importância das parcerias com instituições de ensino e outras organizações?

A interação com outras instituições de ensino sempre é importante. Essa colaboração transdisciplinar é positiva na medida que proporciona um avanço palpável. A aproximação com outras organizações e arranjos produtivos locais são fundamentais também para praticarmos a extensão e trocarmos conhecimentos.

A Fealq é fruto de iniciativa de professores da Esalq que demandavam apoio gerencial complementar ao da USP. Já são 46 anos de parceria e inúmeros projetos colocados em prática. Quais principais contribuições da Fundação?

A Fealq é uma fundação de apoio que sempre esteve muito próxima e presente ajudando os professores com seus projetos, e a gente espera continuar assim. Tem um Conselho Curador formado por ex-alunos nossos, o que também é importante para a Esalq.

A sua chegada na direção representa um marco histórico para a Instituição, enquanto primeira mulher a assumir o cargo. Como você se sente ocupando esse lugar?

É algo que já vem acontecendo no setor. Grandes empresas como a Bayer tem uma CEO, inclusive egressa da Esalq. No setor agroalimentar, felizmente não é incomum contarmos com a presença de mulheres nas áreas que temos aqui na universidade. Entre as unidades fundadoras da USP, somente em 2018, a Escola Politécnica empossou sua primeira diretora, a professora Liedi Légi Bariani Bernucci. Em novembro de 2022, Eloisa Bonfá assumiu como a primeira diretora da Faculdade de Medicina após 110 anos de fundação. Temos que ir eliminando essas barreiras que existem hierarquicamente na sociedade. Esse é um movimento natural que vem ganhando força e esperamos que assim continue, num processo com equidade, com mulheres e homens ocupando os mesmos espaços, mantendo as diferenças de cada um.

Quando começou o seu vínculo com a Esalq e como ele foi sendo construído ao longo dos anos?

O interesse pela Esalq surgiu desde que eu era criança, ainda na escola. E surgiu porque estudei no CLQ, em Piracicaba, uma escola fundada por egressos esalqueanos. Fora isso, eu tinha convivência com alguns professores da Esalq porque meu pai era professor dessa Instituição. Tudo isso me estimulou de maneira que quando fui prestar vestibular, só prestei o da Fuvest, porque era essa a carreira que eu queria seguir. Ao final do curso, fiz iniciação científica e despertei para a área acadêmica e de pesquisa, concluindo mestrado e doutorado. Após me formar, trabalhei na Embrapa como pesquisadora, voltando à Esalq com a oportunidade de um concurso na área.

 

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