A Fazenda Figueira e a Estação Experimental Agrozootécnica Hildegard Georgina Von Pritzelwitz atuam com foco na sustentabilidade, apoiada nos pilares econômico, social e ambiental.
Uma das exigências do esalqueano Alexandre Von Pritzelwitz, ao doar a fazenda à Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), era que a propriedade fosse administrada de modo a ser autossustentável economicamente. Além disso, Alexandre destinou 1.126,10 hectares, que representam 30,5% da área total da fazenda à preservação ambiental. Em 1º de setembro de 1998, essa área, conhecida como “Mata do Barão”, foi averbada em caráter de perpetuidade como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Trata-se da maior RPPN do município de Londrina (PR).
Ao longo dos anos, as práticas de sustentabilidade na Fazenda Figueira foram sendo aprimoradas buscando, além de atender às legislações ambientais e trabalhistas, aumentar os retornos financeiros a partir de ganhos de produtividade e uma maior eficiência dentro da propriedade.
AMPLIAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA – Dois projetos permitiram uma ampliação da área de reserva da fazenda, ao mesmo tempo em que apontaram as áreas mais eficientes e produtivas da propriedade. O Programa de Adequação Ambiental, conduzido por um grupo do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), com a colaboração de uma equipe do Departamento de Botânica da Universidade Estadual de Londrina (UEL), levantou os pontos necessários para que a fazenda atendesse 100% à legislação e às demandas de conservação. O Mapa de uso e classificação do solo, por sua vez, desenvolvido junto ao Departamento de Solos da Esalq, teve como finalidade identificar os tipos de solo e as classes de uso das áreas da propriedade.
Como resultado desses levantamentos, algumas áreas não propícias para atividades produtivas tiveram destinação ambiental, consistindo-se em áreas de regeneração. Em números, além dos 1.126,10 ha da RPPN – “Mata do Barão” –, outros 432,39 hectares com baixo aproveitamento para atividades produtivas foram destinados à recuperação da vegetação nativa totalizando 1.558,49 ha. Com isso, 42,27% da fazenda está registrada no CAR (Cadastro Ambiental Rural) como área preservada, o que significa o dobro da exigência legal, de 20%.
MAPEAMENTO FLORA E FAUNA – Como parte do Programa de Adequação Ambiental da Fazenda Figueira, foram realizados levantamentos florísticos e de presença de mamíferos e aves nas áreas de reserva. Foram catalogadas 279 espécies de plantas, pertencentes a 60 famílias. Entre essas, estão algumas espécies que ainda não haviam sido registradas na região do baixo Tibagi em Londrina, como Jequitibá, Capororoca, Guatambu, Chal-Chal, Embaúba, Pau-viola e Urtiga. Também foram identificadas e georreferenciadas potenciais matrizes entre as árvores como doadoras de semente para a produção de novas mudas visando ao aumento da diversidade.
Pesquisas mostraram, ainda, que há pelo menos 38 espécies de pequenos mamíferos e mais de 220 espécies de aves nesta área de Mata Atlântica. Para dar visibilidade a toda fauna e flora da fazenda, foram mapeadas trilhas contemplativas que permitem a visitação desses espaços.
OUTRAS AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
A implantação de um projeto hidráulico é uma das iniciativas que reforçam o compromisso ambiental da Fazenda Figueira na condução das atividades voltadas à agropecuária. A propriedade está localizada às margens dos Rios Tibagi e Taquara e possui internamente vários afluentes. Para limitar o uso de águas naturais na produção, foram instalados bebedouros, que, além de contribuírem com a preservação das áreas de mananciais hídricos, possibilitam ganhos de produtividade, associados à maior eficiência ao utilizar pastos menores.
Também foram instalados mais de 100 quilômetros de cerca no entorno das áreas de reserva, com o objetivo de impedir o acesso dos bovinos. Para reduzir os riscos com incêndios florestais, foram realizados treinamento da equipe da fazenda e manutenção de aceiros nos perímetros das áreas de reserva.
Paralelamente às melhorias no sistema produtivo, foram feitos investimentos nas condições de vida dos funcionários. As moradias, antes construídas em madeira, sem saneamento básico e na área de preservação de um riacho, foram substituídas por residências em alvenaria, em local de fácil acesso, com ruas calçadas com cascalho, iluminação e saneamento básico. A propriedade conta com 100% do esgoto com tratamento biológico (Mizumo) e coleta de lixo em parceria com a Prefeitura de Londrina.
TECNOLOGIA E EFICIÊNCIA
O administrador da Fazenda Figueira, o engenheiro agrônomo José Renato Gonçalves, ressalta que os investimentos contínuos realizados na área ambiental são possíveis graças à eficiência financeira da propriedade e às tecnologias empregadas sob a perspectiva de longo prazo.
“Hoje, dentro da Fazenda Figueira, a visão de sustentabilidade está muito focada no conceito de ser eficiente em todas as etapas do processo produtivo, utilizando as melhores tecnologias disponíveis nos pilares econômico/produtivo, ambiental e social, encaixadas dentro de um plano de gestão de longo prazo, para garantir a viabilidade e a rentabilidade do projeto gerando os menores impactos possíveis”, destaca José Renato.
Desde 2009, a fazenda integra a Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS), composta por profissionais da área de ciências agrárias e que têm como objetivo promover a sustentabilidade da pecuária brasileira por meio da difusão de tecnologias.